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Por que voltei a fotografar? A hitória de uma mulher em descoberta.

Sempre me achei uma pessoa muito machista. Não entendia muito essa história de feminismo e o que as mulheres ganhavam com isso. Para mim era um movimento sem sentido, de mulheres mal amadas e que só queriam mostrar que poderiam ser tão boas e tão fortes quanto os homens. Santa ignorância! (Me perdoem mulheres, hoje vejo o quanto eu estava errada.)


passos nas areias do deserto
O início de uma jornada

Em 31 de dezembro de 2022, tive um sonho que julguei ser uma epifania. Deveria abrir meu próprio estúdio. Lindo, de primeira linha, para clientes classe A, totalmente planejado para ensaios com recém-nascidos. Não tive dúvida nenhuma de que era esse meu futuro. Não tinha 1 real na conta, mas decidi que ia meter a cara e fazer meu sonho virar realidade. Dito e feito! Meu marido me apoiou e fizemos um empréstimo no banco para cobrir todos os custos com reforma, móveis, acessórios especiais do newborn (props, roupinhas, mantas, flashs, e mais uma infinidade de coisas que só os fotógrafos sabem o quanto custam caro, aff!), além de já prever os primeiros aluguéis e contas de água, luz, internet, etc.


Sala de recepçãocom sofá, poltrona, tapete, um buffet de café, mesa de centro e um vaso de plantas
Meu antigo estúdio

E realmente ficou incrível. Perfeito. Igualzinho ao dos meus sonhos. Ah, no meu sonho eu também anunciava meu trabalho em um outdoor da cidade, incluisive um que realmente existia. Daí fui lá e fiz. Ou seja, tudo aconteceu exatamente como eu tinha sonhado. Os primeiros meses foram expetaculares, com mais faturamento do que eu tinha planejado e depois de alguns meses, tudo desmoronou.


Não entendi muito bem o que estava fazendo de errado. Estava trabalhando muito, mas acho que nos pontos errados, sei lá... acontece que num período de 3 meses eu não fechei nenhum trabalho, e como diz a minha avó, o final do mês chega correndo, e as contas também. Me vi numa situação em que não conseguia mais esperar e precisava conseguir uma renda que ao menos cobrisse os custos e as parcelas do empréstimo. Tive que abandonar o estúdio, vender todas as minhas coisas e arranjar um emprego.


Mas tudo bem, a vida é assim mesmo, temos altos e baixos ao longo de toda a vida, e aceitei que dei um passo errado. Voltei às minhas origens e comecei a trabalhar em uma agência de publicidade, como diretora de arte, outra coisa que eu sempre gostei também. Talvez fosse esse meu destino mesmo. Afinal, até quando eu ia conseguir fotografar recém-nascidos, abaixar, levantar, carregar no colo, fazer dormir... horas de trabalho por alguns segundos de paz e um click.


Foi incrível, não sei se pela minha idade, experiência de vida ou necessidade da agência (hoje vejo que esse devia ser o real motivo) fui promovida logo no primeiro mês de trabalho. Cheguei a coordenar uma equipe de 6 pessoas. Isso pra quem nunca coordenou ninguém, era fantástico. Mas o local, a cobrança que eu me fazia por estar naquela posição e a liderança tóxica que existia ali não estavam me fazendo bem. Mas eu só percebi isso quando afetou meu casamento. Cheguei a um ponto em que liguei para uma antiga psicóloga que me atendia e pedi ajuda.


Foi aí que tudo mudou.


Sabe aquele preconceito com o feminismo? Se transformou em entendimento, respeito, apoio e convicção.


Pâmela Meirelles Mulher em closeup sorrindo

Inicialmente porque entendi que a partir do momento em que eu estava me tornando independente do meu marido, trabalhando e crescendo por conta própria, vi que eu tinha um poder que acho que nunca tinha vivenciado. Eu não me casei tão nova, mas como não tive uma vida de solteira, vivendo sozinha. Nunca tive que tomar conta da minha vida, por conta própria. Começou aí a revolução e minha descoberta como mulher.


O clima foi piorando no trabalho e no meu relacionamento também... só a minha terapeuta me entendia. Realmente só ela... nem eu mesma estava entendendo o que estava acontecendo comigo.

Cheguei a ficar desesperada por uma pausa na vida. Sabe aquela frase "Pare o mundo que eu quero descer"? Era isso que eu sentia.


Por sorte, minha irmã mora fora do Brasil e graças a Deus e a muito trabalho dela e do marido, eles têm uma vida tranquila. Não exitei em um dia de muita tristeza, e pedi que ela me levasse pra junto deles por um tempo. E mesmo tendo minha filha, meu marido e um emprego (que ainda não fazia nem 1 ano que estava nele) eu resolvi passar 20 dias fora.


Pouco antes da minha viagem, meu chefe (que a princípio havia entendido a minha necessidade e me apoiado nessa jornada) me deu um ultimato, e eu acabei pedindo demissão do emprego. Eu e meu marido estávamos em pé de guerra, não estávamos nos entendendo, muita briga, muitas palavras que ferem e magoam a alma. A única coisa que eu tinha de bom era minha filha. Mas eu sabia que ela ficaria bem, seria bem cuidada por ele e por toda a família daqui.


livro com um passaporte brasileiro e uma passagem aérea

Então eu fui. Com 2 livros a tira colo ("Mulheres que correm com lobos" e "Homens são de marte e mulheres são de vênus") e uma expectativa de me encontrar de alguma maneira.


Bom, pelos livros dá pra ver que eu estava atirando pra todo lado, né? Um deles - Mulheres que correm com lobos - um livro super feminista, que busca fazer com que a leitora se encontre com sua "mulher selvagem", sua psique, seus instintos. O outro - Homens são de marte e mulheres são de vênus - entendender sobre as diferenças entre homens e mulheres e buscar aceitar essas diferenças como naturais, o famoso "aceita que dói menos". Me identifiquei com a minha mulher selvagem.


Não foi fácil como parece. Ainda no aeroporto, minha cabeça parecia não saber o que estava acontecendo, se o que eu estava fazendo era o certo. Mas a cada capítulo do livro eu me identificava mais com as situações apresentadas, com a dualidade da psique feminina. Mesmo assim não conseguia ainda identificar meus desejos e minhaas vontades. Como é difícil isso, né? Uma pergunta tão simples (o que você quer da sua vida?) , com uma resposta tão complexa (a única que me vem a cabeça: não sei!).


Mulher sorrindo sem felicidade
Eu procurando a felicidade

Bom, essa era uma pergunta corriqueira nas minhas sessões de terapia, e a resposta também era a mesma sempre. Mas um dia, a terapeuta me falou que sabia que minha vocação era a fotografia, pelo modo como eu falava para ela sobre isso. Eu mesma nunca tinha percebido. Era mais um trabalho... um que eu gostava muito. Mas daí a ser minha vocação? Eu não achei que ela estava certa. Até ter meu tempo, com minha mulher selvagem, e olhar pra dentro de mim mesma... e não é que ela tinha razão? Eu ruminei muito sobre essa afirmação dela, e o por quê ela teria falado isso, e vi que o trabalho em que eu mais era feliz, era fotografando partos.


Realmente não achava que ela estava certa, porque como já disse, era cansativo demais fazer a fotografia newbonr, mas relembrando todos os tipos de fotografia com a qual eu trabalhei lembrei da minha felicidade e da forma como eu revivia o meu momento todas as vezes que eu fotografava um parto. Não importava a hora do dia ou da noite. Eu ia cheeia de esperança, alegria e muita emoção. É impressionante como mesmo depois de ver tantos partos, ainda me emociono com eles.


E foi assim, pensando no que me fazia feliz que eu decidi o caminho que eu queria seguir daqui pra frente. Desde então isso ficou tão forte dentro de mim, tão certo de que essa é minha vontade, que parece que tudo fez sentido. Minha autoconfiança se expandiu, minha autoaceitação, a consciência das minhas limitações e do que desejo pra minha vida. Tudo começou a surgir e a tomar conta de mim. Foi uma descoberta linda, mas não foi do dia pra noite. Tudo isso aconteceu sem que eu percebesse, sem que eu me desse conta.


Só consegui ter essa visão de tanta descobreta de mim mesma depois que voltei de viagem. Até então nem parecia que algguma coisa tinha mudado. Mas ao chegar em casa, junto com meu marido, e enfrentar novamente brigas e discussões, essa mulher se revelou. Dizer não a imposição de idéias, não a inferiorização de mim mesma, não a críticas destrutivas e comentários tóxicos. Foi revelador, foi surpreendente. Foi uma escolha por mim mesma.


Mulher sorridente e feliz no deserto
Eu feliz

Ainda não terminei de ler o livro e tenho certeza que ainda vou aprender e conhecer mais profundamente a minha "mulher selvagem". Tenho certeza também que minha jornada por entender o que é minha individualidade e o que é ser mulher ainda está apenas começando. Mas saber hoje que tomei uma decisão que me faz feliz e que é pensando na minha própria vida e na minha própria felicidade, me faz confiar ainda mais nesse caminho.


três mulheres irmãs, posando pra foto, com lingua de fora
Eu e minhas irmãs, aproveitando nossa viagem

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